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28 de fevereiro de 2011

Como a vida é injusta...

Parece que foi ontem que o cancro foi diagnosticado. O casal fazia de tudo para explicar às suas duas meninas da doença, para elas se irem habituando à palavra, às idas ao médico, às dores tenebrosas... Nada esquece uma noite em que a menina mais nova acordou a vomitar e foi de imediato socorrida pelos pais, doces pais. Horas depois, quando o pai se aprontava para ir trabalhar, uma dor infernal ocorreu-lhe no sítio onde o cancro tinha sido diagnosticado. As meninas ficaram aflitas, a mãe não sabia o que fazer. A menininha tinha medo de ver o pai naquele estado, enrolou-se nos lençóis da cama de casal onde se encontrava e nervosa chorava, chorava... Momentos depois só ela e a irmã estavam em casa. Não percebiam a gravidade da situação  até que um simples telefonema da avó explicou o que se havia sucedido realmente, ainda com “lágrimas na voz”. Horas de choro. Naquela idade, naquela infância, a realidade parecia fantasmagórica, não se sabe falar nem se exprimir de maneira exacta, não se acreditava a 100%, era difícil perceber que o próprio pai tinha ido para o céu, era esta mesma expressão que as menininhas usavam sempre que lhes perguntavam pelo pai, que estava no céu. Durante meses a menininha só queria ver vídeos do papá, a mãe tinha uma grande angústia, não sabia o que fazer.
Agora com idade mais adulta o orgulho naquele pai e naquela mãe é enorme. Orgulho num pai que quis aproveitar todos os momentos preciosos com a sua família, sem que nada lhes faltasse. E, orgulho naquela mãe fantástica que foi mãe e pai ao mesmo tempo pois não é fácil criar duas crianças sem o apoio do conjugue. O mais injusto de tudo, o mais injusto desta vida é que ele teve que ir embora porque a sua própria vida foi ceifada mais cedo. Destino? Se calhar. Mas não é uma injustiça? Hoje, se isso não tivesse acontecido, a vida daquela pequena família era totalmente diferente. No entanto os conhecimentos aperfeiçoam-se, aprofundam-se... Até que percebemos que ter os dias contados por uma doença maligna deve ser a pior coisa do mundo, e ainda por cima quando é hereditária…
Hoje não consigo deixar de pensar nas vítimas de cancro. Em tão pouco tempo tornou-se uma doença cada vez mais popular. Hoje a minha memória relembrou-se do passado por alguém tão novo também ter sido vítima desta doença que se tornou maligna. A todas as vítimas de cancro que a vida as levou, não deveríamos lamentar a sua perda, mas sim acreditar que o céu ganhou mais uma estrela.